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Burocracia a praga que impede a eficiência. Será?

Flavio Lima


 

A palavra etimologicamente já é complicada. Formada por 2 outras que a complicam mais ainda: bureau e krátos.


Se de um lado, lá longe, dos gregos vem purrós (cor de fogo) que se transforma no latim vulgar burrus (marrom avermelhado) que passa ao francês burel e que designava um tecido que era usado entre outras coisas para se fazer contas em cima dele. Em um piscar de olhos e se transforma em bureau, a mesa forrada com o purrós, burrus ou burel. Do outro lado, também grego, vem krátos (poder ou regra) e a nossa velha conhecida – ainda que conhecida do jeito incorreto como vou explicar mais adiante - burocracia aparece como o poder do escritório, ou dos que fazem parte dele.


Hoje se perguntamos se sua empresa é burocrática teremos respostas variadas entre “jamais” e “aqui não violão” dos gerentes, dirigentes e donos que não querem passar uma imagem errada. E vai-se até o “muito mesmo” e “é o inferno na terra” dos outros escalões que às vezes tem que se deparar com um formulário para pedir formulários que deve ser carimbado em 3 vias, e obviamente com a assinatura do dono do carimbo.


Mesmo assim, ambos os espectros de resposta sobre existir ou não a dita cuja burocracia, reagem a uma mesma imagem da palavra: pejorativa sem dúvida, mas presente e fazendo despertar nosso pensamento e revirar os olhos pensando que talvez fosse mais interessante ser torturado com lascas de bambu embaixo das unhas que ter que passar por todo o suplício de ineficiência, de morosidade e da indiferença da empresa ou do setor para resolver as questões que nos afetam. E esse significado perpassa de forma quase transparente entre o mundo das organizações privadas e o mundo dos serviços públicos.


Nada burocrático quer dizer que nos mantemos longe deste animal nefasto haja visto a “nossa” empresa e o “nosso” setor ser eficiente, eficaz e vitaminado. E tudo burocrático quer dizer que estamos mergulhados e chafurdando nas lamas das trevas do papelório e dos carimbos.


De toda forma essa maneira de imaginar a burocracia pode cair por terra se formos curiosos e visitarmos a obra de um dos pais da administração: Max Weber, para encurtar o Maximilian Karl Emil Weber.


Ele foi uma sumidade, no seu tempo e até hoje, por suas ideias e a forma como elas se cristalizaram em artigos, ensaios e livros que influenciaram a economia, a filosofia, o direito e a administração. E mesmo que você não goste de nada disso pode pelo menos apreciar um homem que quando criticado por contribuir em diversos campos do conhecimento saiu-se com a seguinte frase: “I am not a donkey and do not have a field” – Eu não sou um jumento e não tenho um campo”.


Voltando para a burocracia e Max, lá pelo início do século XX, Weber visitou os Estado Unidos que despontava como nação pujante e exemplo do capitalismo que dava certo. Bebendo de suas origens europeias e sua visão do mundo e visando aplicar, talvez pela primeira vez, “o que dá certo para os americanos, pode dar certo para mim”, ele propõe as bases de um modelo ideal (ideal porque jamais será alcançado em sua plenitude) de como as organizações, e particularmente as organizações públicas, deveriam se estruturar na sociedade capitalista.


Esse modelo nasce com uma missão de buscar o máximo de eficiência e de consistência possíveis para uma organização. Então neste contexto a burocracia está no extremo oposto da visão que temos hoje irrigada por toda a sociedade. Burocracia como modelo é a busca incessante da eficiência e não a preguiça infindável da ineficiência.

Max propôs que uma organização burocrática deveria dividir o trabalho, ter uma linha de autoridade hierárquica, escolher os melhores e mais capacitados, ter regras e padrões para alcançar eficiência e constância em suas atividades, ter sua administração profissionalmente compromissada, ter registros de suas ações e finalmente ser impessoal e assim favorecer os melhores e não os apadrinhados. Se você discordar destes princípios pode estar com sérios problemas para viver no capitalismo.


Obviamente que esta escola de pensamento e seus princípios podem ser aplicados para ir pendularmente do lado da eficiência extrema para o da ineficiência extrema. E causar tanto benefícios quanto malefícios. E a única forma de estar do lado certo é ter o espírito crítico para avaliar o que é realmente necessário e essencial da burocracia para que ela seja um meio e não o fim em si mesma e leve sua empresa à eficiência e prosperidade.


Como leitor crítico e desconfiado você pode e deve duvidar que uma empresa, qualquer empresa, burocrática possa ser eficiente. Já pensando nisso, um pesquisador chamado John Childs desenvolveu estudos mostrando que existe uma relação entre graus de burocracia, tamanho da empresa e desempenho. Grosso modo ele identificou que empresas maiores e menos burocráticas tinham desempenho pior que as suas irmãs de mesmo tamanho e mais burocráticas. E de forma inversa, empresas menores e mais burocráticas também tinham desempenho pior que suas irmãs menos burocráticas.


Burocracia versus desempenho
O autor.
 

Concluo sugerindo que da próxima vez que perguntarem se sua empresa é burocrática, pense somente em Max, e diga que ela é tão burocrática quanto possível para ser mas eficiente.

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