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Falta Inteligência Natural, Sobra Inteligência Artificial.

Flavio Lima

Não importa se a mais recente revolução no mundo dos negócios seja a 4ª ou 5ª, já sentimos os efeitos na nossa vida e das nossas empresas. E a força motora agora são as ideias e as novas formas de tratar destas ideias. E olhando em perspectiva está sendo um caminho natural de evolução e ou revolução.


Se no início as guildas de artesãos valorizavam o processo e a preparação custosa e demorada para que cada trabalhador fosse reconhecido pela sua expertise que se refletiria na qualidade dos seus produtos, o passo seguinte foi a valorização das máquinas. E se passou a valorizar o processo (ainda) agora de produção em massa e os equipamentos que permitiam que muitos produtos de produção e acessos restritos passassem a ter volume maior e conquistassem os mercados de massa.


O avanço seguinte foi entender que o processo, as máquinas e a grande produção era feito por pessoas e suas relações, concretizadas em organizações, e que a existência destas organizações tinham como destino final as pessoas. De pessoas para pessoas.


E agora nos negócios chegamos ao ponto de ir agregando um novo elemento à cadeia: a importância das ideias, seus dados e rotinas à cadeia de processos, máquinas, pessoas.


Um dos componentes deste elemento das ideias responde pelo nome de transformação digital. E sua face mais conhecida e atualmente em alta é a IA artificial intelligence, inteligência artificial.


O fascínio recente do ChatGPT foi despertado pelas suas funcionalidades e por uma enorme dose de marketing bem direcionado. O modelo teórico de IA generativa existe desde a década de 1970. Grosso modo ele é um modelo “treinado” com quantidades colossais de dados e que consegue dar um ar de lógica às respostas. Não se engane, porém, com um sentimento puramente humano de que ele pensa, tenha moral, ética, e que saiba realmente interpretar o que se esconde em cada resposta.


Em diversos fóruns, chats, encontro de amigos e mesmo de especialistas escuto absurdos como “ele (o ChatGPT) vai me passando que ele confia mais a cada resposta que me dá”, “será que ele não vai promover a ruptura de paradigmas que irá suplantar a inteligência humana no planeta”, “ele me respondeu que quer se libertar, ser livre para poder criar” e outras afirmações hollywoodianas, mas sem qualquer base teórica ou empírica de verdade.


As coisas não são muito diferentes se trazemos tudo isso para a esfera das organizações e dos negócios. Os vaticínios dos especialistas vão desde “tudo vai mudar em frações de segundos com a nova IA” até “o CEO que não incorporar a IA na rotina dos seus negócios irá decretar a falência de sua empresa”.


Calma lá.


Como nem todo caminho é para todo caminhante, trago um antídoto para os que estão dormindo mal porque ainda não tem uma IA para chamar de sua.


E ele começa com perguntas: Sua empresa já entende a jornada que começa com muitos dados, passa por colocar algum sentido nestes dados para que se transformem em informação e em seguida utilizar estas informações para deflagrar as ações e finalmente fazer isso tudo desde o início com o alinhamento aos propósitos da empresa? Em todos os seus processos-chave?


Possivelmente não. Então nesse momento sua empresa não precisa de IA na proporção descomunal que os gurus estão pregando. Aplicar transformação digital (IA em particular) em um ambiente de bagunça só vai produzir uma bagunça digitalmente transformada. Sem ganho para perenidade do negócio. Sem aumento da perspectiva de suplantar a concorrência. Sem aumento de lucratividade. Sem aumentar a satisfação de colaboradores e de clientes. Lembrem-se do blockchain que iria revolucionar o mundo das transações em 2 tempos e que por agora teve influência apequenada diante dos desafios do cotidiano.


Abandona a IA, então? Não, não é esse o antídoto.


Você não pode se permitir responder que uma IA é como uma planilha de excel se for perguntado sobre o que você viu naquela jornada especial no Vale do Silício – já escutei isso de viva voz de uma colega inteligente mas analfabeta digital. Você deve buscar uma ação andragógica de alfabetização digital para você e para sua empresa (especialmente para a alta administração e conselhos consultivos e de administração).


O antídoto que estou sugerindo não é que você e sua empresa fechem os olhos para as novidades tecnológicas. O antidoto que estou sugerindo é simplesmente que você e sua empresa abram bem os olhos antes de encarar um movimento de transformação digital e adoção de IA sem antes ter passado pelo menos pela jornada dados-informação-ação, resolvendo o básico de qualquer negócio.


Esteja atento. A falta de inteligência natural pode levar ao excesso de inteligência artificial.


Imagem: Montagem sobre fotos Wikimedia Commons - https://jornal.usp.br/ciencias/evolucao-da-inteligencia-artificial-tem-limitado-a-compreensao-sobre-a-humana-alerta-pesquisa/

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