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Governança ou Caos.

Flavio Lima


Não é novidade que a velocidade e o ritmo alucinado da vida moderna nos afetam e às nossas organizações. Um furacão de sons, imagens, cheiros, notícias e o medo de perder alguma coisa é constante. Em inglês o termo é FOMO: Fear of Missing Out, ou medo de perder algo. Esse termo vem da indústria de tecnologia e é descrito como o medo de perder alguma atualização tecnológica, mas podemos extrapolar e aplicar a esse medo irracional de não saber da última notícia, do último aplicativo, da última tendência, da última dancinha.


Evitar o FOMO é tarefa para os gurus da meditação e almas naturalmente iluminadas que conseguem baixar esta ansiedade e viver plenos, alimentados de luz e bons pensamentos. Não é meu caso. Para nosotros (eu), resta tentar aproveitar o turbilhão, identificando os assuntos quentes que merecem mais atenção que a que é demandada pela superficialidade do momento.

 

Pensando nisso, e tentando sobreviver no olho do furacão, vamos ao mais recente assunto quente que tomou nossas terras tupiniquins: Amanhecemos nesta semana com a descoberta de um montante de 20 bilhões no balanço auditado de uma grande varejista que leva a crer ser um rombo nas suas contas. Assombro para alguns, informações desencontradas para todos, desculpas, renúncia de executivo recém-contratado alegando coerência com sua história e com boas práticas de governança.


E por mais que seja tentador pensar que o assunto quente seja o balanço e o suposto rombo (são 20 bilhões !!!), eu acredito que ele seja a governança.


E o que é esta tal governança? Sem muita firula e tentando ser simples, mas não simplista, podemos definir governança como um sistema que dirige e monitora as organizações e estabelece regras para o relacionamento de todas os atores interessados nelas, incluindo o meio-ambiente. Aqui a primeira pulga surge detrás das orelhas. Para dirigir e monitorar as empresas já temos presidente, diretoria e toda uma linha de hierarquia. Para quê governança então?


O ponto de atenção aqui é que em organizações muito grandes, com capital aberto ou com atuação em muitas indústrias diferentes fica cada vez mais confuso saber se as decisões sobre as ações estratégicas estão de fato alinhadas com o melhor (factível) interesse do todo ou estão sendo alvo de algum viés.


Um exemplo prático e rápido para ilustrar como as coisas podem ficar complexas. Imaginemos uma organização que possui duas empresas em duas indústrias (considere indústria como o segmento do negócio) diferentes. Uma empresa química fabricante de sílica gel (foi o produto que me veio à cabeça hoje devido a um problema com excesso de umidade aqui em casa em Curitiba) e uma empresa fabricante de embalagem plástica. Em uma situação hipotética a empresa de embalagens plásticas precisa de investimento para atender um pedido recebido que é muito maior que sua capacidade atual de produção. Entretanto, o capital para investir já está comprometido com sua irmã fabricante de sílica gel que prevê que o mercado de sílica gel em Curitiba vai continuar em expansão pelos próximos inverno, verão, outono e primavera para sempre (quem conhece Curitiba sabe do problema de umidade aqui que é confirmado pelo fato curioso que em alguns anos pode-se ter menos dias ensolarados que Londres).


As duas empresas têm necessidades de investimento. Têm perspectivas de vender mais e a organização que as controla não tem capital suficiente para ambas. Quem decide? Os sócios? Os acionistas (se o capital for aberto)? Os consumidores? Esta decisão segue que estratégia? Qual a melhor decisão para assegurar o futuro? Embalagens plásticas terão mais ou menos demanda com o aumento da pressão ambientalista ou a sílica gel deveria ter sua produção interrompida pelo impacto de seus subprodutos? E muitas outras questões chegarão em quaisquer 5 minutos de reflexão.


A governança entra exatamente aqui como o sistema que aplica alguns princípios basilares para assegurar que a organização como um todo vai dirigir o recurso, a energia e o tempo para o melhor (factível) caminho. Transformando estes princípios basilares em diretivas concretas e em seguida monitorando que tudo esteja alinhado e de acordo com o esse melhor (factível) interesse.


Grosso modo, é como ter uma superestrutura administrativa sobreposta ao sistema administrativo que identificamos normalmente com o presidente e sua diretoria em uma organização


Esta superestrutura tem pelo menos 4 princípios basilares. Transparência, tratamento com equidade, facilidade de prestação de contas e responsabilidade corporativa. A governança possivelmente necessitará de alguns órgãos internos como um conselho de administração e comitês e subcomitês para permitir que estes princípios basilares sejam de fato transformados em diretivas concretas e assegurem que a organização prospere de forma perene.

 

Agora pensando em uma empresa média ou pequena vale a pena ter governança? Sem dúvida e depende.


Sem dúvida porque nenhuma organização idônea e com atividades legais se posicionaria contrária à transparência, à equidade, à prestação de contas e à responsabilidade corporativa, acreditando que seria um diferencial competitivo.


E depende porque excetuando o caso que a sua empresa atue em um segmento que tem uma regulamentação compulsória que a obriga a ter um conselho de administração, comitês de auditoria, auditorias independentes, conselho fiscal e outros comitês variados, todos os outros casos podem aplicar a governança pela observação da existência nas suas estruturas atuais de pelos menos aqueles 4 princípios basilares da transparência, prestação de contas, equidade e responsabilidade corporativa, necessitando de pouca ou nenhuma criação extra de conselhos e comitês.


Então cuidado com o furacão (exceto pras almas iluminadas e gurus da meditação), escolha o bom tema para se aprofundar. E, finalmente aplique governança em suas empresas, mas fugindo das fórmulas prontas e se cercando de profissionais que entendam e que vão aportar valor olhando o seu caso como caso único.


Governança ou caos? Governança (caso-a-caso).

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