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Um estudioso chamado Tamayo fez um apanhado de características ligadas a essência dos povos. Um estudo sério que liga cada nação com seus predicados dominantes e que se traduzem na forma como lidamos com os problemas do dia-a-dia.
De cabeça e grosso modo, lembro das 4 características que caracterizam o Brasil neste estudo: O apreço pelo belo, o trabalho como fator de ascensão, o gosto pela limpeza e ordem e finalmente a crença no futuro melhor.
Iniciando pelo apreço pelo belo, o estudo mostra que gostamos mais de coisas que tenham um apelo estético mais arrojado. Isso vale para quase tudo. E abrange um espectro amplo de expressões dentro da sociedade que passa pelas nossas manifestações de arte popular ou erudita e vai até à nossa propensão de não tolerar produtos “feios” que têm baixa aceitação e determinam o sucesso ou insucesso de vendas.
No ramo que mais conheço, o automotivo, já vi marca de renome tentar se valer de seu reconhecimento como confiável e durável perante o público e lançar carros “feios” que naufragaram de forma vertiginosa e terem que reagir dourando a pílula e fazendo algo mais “bonito”.
E do mesmo modo, vi marca que não tem uma imagem consolidada no mercado, lançar produto ruim com pelo menos uma dezena de recalls, porém “bonito” e que foi perdoado, por assim dizer, e ganhou tempo para corrigir os pontos mais graves e continuar vendendo e bem. Em suma o “belo” vende e é aceito. Curiosidade: o Brasil tem o terceiro maior mercado de cosméticos do mundo (atrás de Estados Unidos e China) de acordo com os dados de 2021 de um relatório apresentado no site do Sebrae (https://t.ly/Bv51).
A segunda característica é sobre o trabalho. Esta característica por mais paradoxal que possa ser em relação ao senso comum, ao senso de Macunaíma e ao complexo de vira-latas, é uma realidade. O brasileiro acredita que o trabalho é uma forma de ascender econômica e socialmente. E trabalhamos muito. Talvez não trabalhemos de forma mais eficiente e eficaz, mas isso é a meu ver, mais fruto da interrelação entre as características que da tese que somos preguiçosos.
A terceira característica é o gosto pela limpeza. Existe uma ligação com a característica do apreço pelo belo, mas o ponto principal é o sentir-se limpo, ter cuidado pessoal e higiene. Em alguns países do mundo os brasileiros que costumam escovar os dentes após as refeições são abordados com perguntas esdrúxulas como “você tem problemas de gengiva”. Ou quando tomam mais que um banho por dia. Em minhas andanças pelo Brasil, passando em qualquer casa de qualquer classe social ainda se escuta o “arear as panelas” que é uma técnica antiga de tirar as crostas passando areia nos utensílios.
E finalmente depois deste preâmbulo de curiosidades, vem a quarta característica que é a que me traz o tema maior: O improviso ou neste caso a crença no futuro melhor. Somos uma nação de criativos. E isso não quer dizer algo necessariamente bom ou ruim. Ser criativo é ter a aptidão intelectual para criar e reagir ao inesperado com criatividade e altas doses de improviso. É ser original na abordagem das situações. E, além de criativos, nós, brasileiros, somos um povo otimista. Acreditamos piamente que se hoje as coisas não estão boas, amanhã elas estarão melhores.
E como tudo na vida, é uma faca de 2 gumes. Se pelo lado positivo nos faz ver a vida com cores positivas – e têm povos que não possuem esta característica, o francês por exemplo, que geralmente não diz que algo é bom, mas é “pas mal” ou “não é ruim” em tradução livre. Por outro lado, nos faz desprezar qualquer tentativa séria e aprofundada de se planejar, porque se hoje está ruim, amanhã com certeza estará melhor.
Na semana passada, em um evento aberto, escutei o dirigente maior de uma empresa tecer elogios rasgados ao seu produto que está entrando para revolucionar o mercado brasileiro – e todos temos que acreditar em nossos produtos se queremos dar certo. Escutei a mesma pessoa falar que o segredo do sucesso é fazer o que se gosta – isso é mais uma platitude de consultoria de autoajuda que uma verdade, mas é compreensível passar estas mensagens palatáveis em um evento de meia hora. Não vou me arriscar a falar do segredo do sucesso agora, fica para outra ocasião.
E, finalmente escutei ele se vangloriar que fez uma previsão (muito ruim por sinal, pois previu um X de demanda e pediu X mais 50% para entrega) e que mesmo recebendo tudo o que pediu não conseguiu atender a demanda real. Risos de todos. A impressão clara de que somos heróis porque lidamos com estes imprevistos de uma forma leve e ao final conseguimos sucesso. E nenhum comentário sobre o erro crasso de previsão, sua origem e seus efeitos.
Não acredito que houve premeditação na previsão errada e nem falta de competência, mas houve a ação sub-reptícia. (no sentido de furtiva) da nossa quarta característica da crença no futuro.
Como acreditamos no futuro, nos damos ao direto de improvisar até cansar, não planejamos as coisas da maneira que deveríamos.
Planejar é prever o que fazer para que as coisas deem certo utilizando o tempo, os recursos e as pessoas que temos, sem sacrificar nenhum deles. Planejar demanda identificar os riscos de qualquer operação e prever linhas de ação para mitigar os efeitos destes riscos. Planejar é jamais contar com a sorte (mesmo que às vezes ela nos apareça) para obter bons resultados.
Sem planejamento a sua empresa, nenhuma empresa, é profissional o suficiente para se manter no mercado, fascinar seus clientes e se manter lucrativa.
Uma empresa que só improvisa e não planeja jamais alcançará a Transformação que a levará à Excelência.
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