As pesquisas sobre o que hoje se convenciona chamar de inteligência artificial (IA de agora em diante) começaram para valer a parti da década de 1950 e foi influenciada enormemente pelos conceitos que a cultura popular adotou. Desde o Mágico de Oz com o homem de lata e passando pelos robôs dos seriados que começaram a pulular nas TVs da época, o conceito de um robô humanoide foi semeado com algo possível e desejável. A era de ouro da ficção científica estabeleceu as bases para iniciar a discussão mais ampla em outros círculos.
Com esta ideia plantada na cabeça, alguns matemáticos, físicos e filósofos passaram a discutir a possibilidade de criar uma verdadeira inteligência artificial. Uma máquina que pudesse ser inteligente (seja lá o que for isto) e enfrentando os mais diversos obstáculos – computadores que não tinha potência de cálculo suficiente, custo computacional astronômico, falta de base teórica e de gente com a competência para discutir ou fazer o campo progredir – a IA avançou. Embora longe ainda do objetivo do humanoide da ficção bem semeado na nossa imaginação.
Desde aquela época e até agora todos os que se atreveram prever uma IA que suplantasse o cérebro e a inteligência do mais mediano de nós, falharam.
Ao final da década de 1960, Arthur Clarke e Stanley Kubrick afirmaram que por volta de 2001 “nós teremos máquinas com inteligência que se equiparariam ou excederiam a inteligência humana”. No início da década de 1970, Minsky afirmou algo parecido “Entre 3 e 8 anos a partir de agora, nós teremos uma máquina com a inteligência comum de um ser humano”. E mais recente, temos a febre do ChatGPT que promete mundos e fundos e aos poucos se descortinam suas falhas – gasta muita energia e seu aprendizado é datado são exemplos.
Sem prejuízo em reconhecimento que a IA avançou, ainda estamos a muitos passos de emular a inteligência humana e a muitos ainda de ter aquele robô humanoide da década de ouro da ficção.
E o que isso tem relação com sua organização?
Tudo. Ou nada.
Todos nós estamos escutando as promessas de que a nova economia é digital. E que sua empresa ficará para trás se não estiver no caminho da digitalização. E sem BIG DATA e sem IAs (sim no plural porque existe mais nesta seara que somente o ChatGPT) no cotidiano da sua operação tudo estará condenado.
O FOMO (fear of missing out) se instala e também a tomada de decisões que podem impactar a empresa e sua perenidade. E decisões tomadas via FOMO podem ter consequências imediatas que nem toda a inteligência artificial ou mesmo a natural poderão evitar.
Como sempre não podemos e não devemos acreditar em caminhos binários. Não se deve abraçar ou refutar a adoção da IA.
E, adaptando umas recomendações de uns escritos de lá de 1950 sobre a crescente tendência de acreditar em números e estatísticas para se tomar decisões, erradas na maior parte das vezes, recomendo que sua decisão passe pelo crivo de 4 perguntas simples e essenciais sobre sua empresa e as IAs.
Qual ator deste ecossistema disse que você deve usar uma IA?
A primeira pergunta é para clarear os vieses de quem recomenda sua empresa usar IA. É uma busca pelos vieses conscientes (existe algum interesse em provar que a IA é eficaz e eficiente ou alguém tem o interesse de vender a IA ou uma consultoria para utilizá-la) e também uma busca pelos vieses inconscientes que podem ser mais perigosos (as diversas entidades que publicam os ganhos que a IA promovem devem estar presentes em todo o processo e não somente para garantir um ar de autoridade).
Como este ator sabe que a IA é recomendada para o seu caso?
O ponto central é verificar se a IA foi aplicada em empresa do segmento e com características semelhantes à sua. E se os resultados obtidos têm relação direta e inequívoca com o desempenho da IA. Aplicar a IA em uma empresa de segmento diferente ou com características não semelhantes é garantia que tempo e recursos serão gastos para obter nada. E se foi em empresa semelhante, mas não se pode ver de forma inequívoca que o resultado foi por obra e influência da IA, então não desperdice seu tempo e recursos.
A discussão da adoção e uso da IA é consistente com a conclusão de sua eficácia ou eficiência?
O viés aqui é de ser facilmente confundido na discussão da adoção da IA versus seu real desempenho. Dizer que um modelo de IA foi satisfatoriamente implementado em tempo recorde não é a mesma coisa que dizer que ele foi satisfatoriamente implementado em tempo recorde e trouxe resultados bons (enfatizo os bons, porque resultados sempre virão). Engenheiros, como eu sou, se divertem muito com a implementação e com a sensação de que estamos consertando e fazendo um mundo melhor (se não está quebrado, não está completo), e esta tendência é enormemente aproveitada pelo marketing para empolgar sobre a ferramenta e o processo e às vezes suplantar a discussão sobre o resultado real.
Faz sentido implementar uma IA na sua empresa neste momento?
Essa é a última questão da lista e pretende colocar em xeque o senso comum, as estatísticas e ações de marketing para a adoção da IA (ou qualquer outra ferramenta) contra as reais necessidades e resultados pretendidos com ela na sua empresa. As conjunturas mudam o tempo todo e talvez a adoção da IA não faça sentido agora ou no futuro. Por vezes as empresas ainda precisam aprender a planejar, organizar, direcionar e controlar melhor seus processos e atividades antes de se embrenhar nesta floresta de novidades e desperdiçar tempo e recursos.
A busca pela EXCELÊNCIA exige mais inteligência natural que inteligência artificial.
*Artigo interessante sobre o histórico da IA: https://sitn.hms.harvard.edu/flash/2017/history-artificial-intelligence/
** Homem de Lata: https://www.kindpng.com/imgv/iJowwRJ_tin-man-png-wizard-of-oz-tin-man
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